terça-feira, 12 de abril de 2011

Escolas São Saudáveis??

Grata por mais este excelente artigo, parabéns! Repetindo suas palavras: "... Lembrem-se que a saúde, tanto física quanto mental, tanto individual quanto da sociedade como um todo, começa em casa, no seio da família. É preciso que venha de nós o exemplo da civilidade, cordialidade, amor ao próximo, senso de comunidade e, como eu sempre digo, um estilo de vida saudável."
E concluo: a PAZ que abrange TUDO começa em mim, em cada um de nós...


Imagine uma instituição acima de qualquer suspeita, à qual você entrega seu filho ou filha para lá permanecer por boa parte do dia, todos os dias, e que cobra um bom dinheiro para tal. O que quase ninguém sabe é o que realmente se passa dentro dos muros dessa instituição. Esta instituição são as escolas particulares brasileiras. 
As escolas particulares conseguiram, com sucesso, manter uma aparência fidedigna. Todas elas têm um discurso admirável, exaltam a democracia, convivência harmoniosa, cidadania, ética e, é claro, formação, informação e aprendizado. Todas as escolas têm um “jargão” mais ou menos similar e que sempre fascina, encanta os pais.
Mas parece existir uma contradição – uma enorme contradição, por sinal – entre essa aparência exterior, maravilhosa, e o cenário interior, os bastidores por assim dizer, das escolas particulares. No meu olhar de médico voltado à medicina do estilo de vida, é fundamental buscar, durante minhas consultas, a relação entre as queixas, sintomas, doenças, e o estilo de vida de cada um dos meus pacientes, para que juntos possamos elaborar a estratégia de tratamento o menos agressivo e o mais eficaz possível para cada caso. E é assim, buscando sempre essa relação entre doença, saúde e estilo de vida, que atendendo tantos professores doentes, tenho tomado conhecimento do ambiente pavoroso que pode ser uma escola particular. Ainda que nada disso transpareça para o mundo exterior!
Quase tudo é insalubre na escola, a começar pelo fato dela confinar vinte, trinta ou mais alunos em uma sala de aula, e centenas ou milhares de alunos na escola propriamente dita. Está provado que ambientes de convívio humano altamente confinado, como quartéis, prisões, asilos e escolas, em si só, aumentam significativamente o risco de uma série de doenças – não apenas infecciosas, que se espalham mais facilmente em ambientes confinados, mas também hipertensão arterial (pressão alta), gastrite, úlcera, comportamento agressivo e aumento do stress que predispõe a uma série de transtornos mentais. Entenda bem: você não precisa de mais nada, além de um ambiente de confinamento aglomerado, para apertar o gatilho que predispõe a essa série de doenças.
Para quem não sabe, é importante esclarecer: transtornos mentais não é sinônimo de doenças psicóticas (ex: alucinações, ilusões, paranóia, esquizofrenia, distúrbios do pensamento). transtornos mentais é o termo médico genérico utilizado para englobar não apenas as doenças enumeradas acima, mas também uma série de doenças cada vez mais comuns entre crianças alunas de escolas particulares, como ansiedade, depressão, transtorno obsessivo-compulsivo (TOC) (odeio siglas!), pânico, agorafobia, bipolaridade, distimia, mania, hipomania, anorexia nervosa, bulimia nervosa, bulimia do exercício, distúrbio de ajuste (também conhecido como depressão situacional), ciclotímia, transtorno da identidade de gênero, orientação sexual egodistônica, abuso de substância, entre outras.
E, é claro, no mesmo ambiente aglomerado e confinado que se encontram as crianças, encontram-se os professores.
Por questões climáticas (temperatura + umidade) acrescidas ao confinamento em salas muitas vezes abafadas e sem boa circulação de ar – tudo isso acrescido do stress em si – as crianças estão quase sempre suadas. O suor gera odor corporal desagradável. O olfato de todos sofre com o cheiro de suor constante. E sofre em mais que um sentido: estudos como este (publicado na Nature Proceedings) e este (publicado no PLoS One) mostraram, através de ressonância magnética funcional, que o cheiro do stress, transmitido através do suor humano, é capaz de provocar stress mesmo em outro ser humano que anteriormente não estava estressado. A CNN fez até uma matéria sobre esse assunto em agosto de 2009, que pode ser lida aqui.
O barulho constante, com volume de muitos decibéis, não acaba nunca. Enquanto uns estão em classe (muitas vezes barulhenta!), outros podem estar fora de aula fazendo toda espécie de barulho (alguns podem estar no intervalo, outros vão se movimentando para outras atividades e assim por diante, podendo frequentemente criar tumulto e barulho nos corredores que se reflete na sala de aula. Agora pense como é difícil focalizar a mente para assistir, acompanhar e entender uma aula em meio a tanto barulho. Pense como é difícil a um professor dar uma aula nessas condições! A exposição crônica ao barulho interfere, e muito, com as atividades diárias, o desempenho, e está associada – de novo – a doenças como úlcera, gastrite, doenças cardiovasculares e uma série de outras ligadas ao stress. Há muito já se sabe que o barulho crônico, em crianças, afeta negativamente a função cognitiva, psicofisiológica, motivacional, e os processo afetivos de crianças e adultos – alunos e professores (Psychological Science, vol 6, no 6, nov 1995, pp 333-338: Chronic noise and psychological stress). Apesar de todas as evidências científicas, não existem escolas com boa acústica! Todas as escolas deveriam prever acústica, com todo esmero, em sua fase de projeto!
Na cantina da escola, o que temos? Empadinha, “doguinho”, cheesburger, refrigerantes, sucos repletos de açúcar entre outras beberagens, doces, chocolate, balas, quase nunca uma salada de futas, só batata frita, pipoca de microondas (uma verdadeira febre dessa pipoca nas escolas!), refeições preparadas com óleos oxidados e produtos industrializados… melhor parar por aqui e indicar ao leitor interessado este meu artigo, intitulado “A Péssima Alimentação nas Escolas e Hospitais”. Mas o que interessa aqui é conhecer a seguinte informação: uma pessoa mal-alimentada pode se tornar mais estressada, mais agressiva, ansiosa, ter sua capacidade de aprendizado (e transmissão de conhecimento) diminuída, entre uma série de outras doenças, inclusive causadas por queda da imunidade provocada por má alimentação. Pergunto: O que há de saudável numa cantina de escola? Nada, talvez? As crinaças trazem lanche de casa: bolacha recheada, pipoca, beberagens doces, bolos etc. Pergunte a algum professor se ele ou ela conseguem fazer algum regime para perder peso numa cantina de escola. Só se for regime de engorda!
O ritmo da escola é desesperador. Tudo está correndo, as crianças correm, os coordenadores correm, os professores correm, separando brigas de alunos, “pegando a laço” os alunos que “fogem” e assim por diante.
Não é de causar espanto que muitos dos porfessores sofram de pressão alta. Além de tudo o que já foi explicado, eles têm 20 minutos de intervalo, e nesses 20 minutos eles precisam comer, beber, conversar com pais de alunos, ir ao banheiro etc. Detalhe importante: o professor não pode sair em hipótese alguma da sala de aula, nem sequer para ir ao banheiro. Não importa se está com uma infecção na bexiga, dor de barriga – é proibido, na prática, ao professor, deixar a sala de aula!!!
Você pode não saber disso, mas professores de escolas particulares, assim como vendedores, bancários e outras vítimas do capitalismo selvagem, trabalham com metas. Essas metas são as mais variadas: meta de não perder aluno, de garantir que tantos por cento não fiquem abaixo de 60% da nota, de elaborar estratégias para que o aluno não falte, não se atrase, entre muitas outras. Caso não seja possível ao professor cumprir essas metas (muitas vezes inatingíveis, na prática, pelos mais diversos motivos), esse professor vai haver-se com a administração. Basicamente ele está em apuros, seu emprego, sustento e carreira estão em jogo. Agora, falando francamente, como elaborar estratégia, por exemplo, para um aluno não atrasar, se é o pai desse aluno que nunca acorda na hora certa??
O que a administração da escola entende por “rendimento” dos alunos perante um determinado professor, é avaliado através de um gráfico. Ora, o professor é um ser humano, lida com alunos que são seres humanos (cuja individualidade a escola diz ser importante), que por sua vez têm uma família toda ela composta de seres humanos em todas as suas diversas necessidades individuais – mas a avaliação, ainda assim, é feita a partir de um gráfico do Excel.
A escola particular é uma hierarquia burocrática. A direção da escola cuida da parte administrativa/financeira. Diretor de escola nos dias de hoje não é nada daquele personagem carismático que os adultos experimentaram em sua época, uma geração atrás. Hoje, diretor de escola é um burocrata que está à frente da área administrativa/financeira da empresa (no caso, escola). O segundo nível é a vice-directoria, que cuida do planejamento da escola (plano executivo). Em seguida existe a coordenação pedagógica, nível de burocracia que lida com os professores, fiscalizando, entre outras coisas, a apresentação pessoal, rendimento e aprovação das provas elaboradas por esses professores. Sim, o professor elabora uma prova para sua classe, mas é necessário que a coordenação pedagógica aprove a prova do professor (!!) antes que essa prova seja ministrada aos seus alunos.
Não é difícil compreender que a aprovação de uma prova represente uma situação de stress de proporções brutais para um professor. O professor conhece cada um de seus alunos, conhece o grupo de alunos que perfaz cada uma de suas salas de aula. Cada grupo tem suas particularidades, as mais variadas. Dependendo da situação, esse professor pode querer elaborar uma prova extremamente dissertativa, ou talvez uma prova mais criativa com histórias em quadrinhos (cada vez mais comuns em exames vestibulares) – mas essas provas, elaboradas com tanto cuidado e atenção à individualidade, podem muito bem não ser aprovadas pela coordenação pedagógica, por qualquer motivo! Por exemplo, a coordenação pode alegar que a prova é muito longa, muito fácil, ou muito difícil – ou pode discordar com a estrutura da prova (ex: não aprovar o formato em quadrinhos).
Vejamos: o professor estudou para ser o que é. Foi contratado por sua competência. Conhece melhor que ninguém o perfil de sua sala de aula. Consequentemente, quando o professor bola uma prova, ele sabe, melhor que ninguém, se essa prova é viável ou não para a turma dele. Já o coordenador é um burocrata que não vivencia a sala de aula e faz uma avaliação extremamente fria daquela prova, dificultando em muito o trabalho do professor, e frequentemente causando frustração, ressentimento, desânimo, desmotivação, contrariedade e stress, afinal os professores costumam ser muito mais ideológicos que burocratas!
Hoje por legislação existe a figura do “enquadramento”: basicamente, se o aluno possui um laudo médico atestando que sofre de alguma entre uma lista de transtornos mentais (ex: bipolar, pânico, dislexia, déficit de atenção, hiperatividade, transtorno obsessivo-compulsivo entre outras), esse aluno tem direito, por Lei, a uma REavaliação, caso não tenha tirado nota suficientemente boa. Isso representa uma carga de trabalho para o professor, fora do período normal de trabalho. Além do que, o salário pago ao professor por esse trabalho de elaborar e ministrar novas provas para todos esses alunos é, de regra, muito inferior ao de hora-aula normal. Para muitos professores, não paga nem mesmo o tempo que o professor ficou em casa elaborando aquela prova ou reavaliação.
O mais impressionante, para mim, foi saber de um professor, que do total de seus 340 alunos, 80 têm laudo.
Ou seja, quase 1/4 dos alunos com problemas de saúde dessa natureza! Que triste! Eu não imaginava isso! E olhe que sou eu quem nunca perco a oportunidade para alertar ao fato que cada vez mais indivíduos sofrem com doenças que anteriormente não eram tão comuns, e que essas doenças estão surgindo em idades cada vez mais precoces. Mas quase 1/4 das crianças numa escola, eu não fazia idéia! E você, sabia disso?
Quantos desses 80 não estariam enquadrados na situação em que se encontram, por causa, em parte, das condições insalubres acima descritas? E quantos não virão a se enquadrar daqui a pouco?
E quão estressante será, por exemplo, reavaliar um aluno bipolar? A grande maioria dos alunos chamados bipolares costuma oscilar entre a tristeza e a agressividade. Outro professor, com quem conversei, relatou que, em certa ocasião, dois professores adultos não foram capazes de conter uma criança de 11 anos em toda a sua agressividade. Agora, digamos: que péssimo, caro leitor, para seu filho, uma criança perfeitamente saudável e bem adaptada, ter de conviver todos os dias com outra criança que, às vezes, aos 11 anos de idade, não consegue ser contida por 2 professores em sua agressividade, em seus “5 minutos de fúria”!! Para os outros alunos de 11 anos e seus respectivos pais, não interessa se o aluno-problema em questão é ou não bipolar. Interessa apenas que seus filhos estão apanhando na escola. Sofrendo agressões físicas, verbais e morais. O que farão os pais dessas vítimas? Certamente irão acusar uma situação de bullying para a escola. A coordenação pedagógica (cuja função também é conversar com pais de alunos) irá tipicamente prestar contas do professor, que para todos os efeitos não deu conta daquele aluno bipolar, razão pela qual foi gerada uma situação de bullying, que por sua vez atrapalhou a aula, o conteúdo didático, a sala. A aula virou um caos e a culpa é do professor. A culpa parece sempre recair sobre o professor!!
Um caso muito trágico ocorreu no Rio de Janeiro em abril de 2011, de um ex-aluno de escola pública que chegou ao extremo do desequilíbrio e entrou atirando numa escola, matando vários alunos e suicidando-se em seguida. Uma tragédia para os alunos, para os pais das vítimas fatais, para os pais dos demais alunos que ficaram traumatizados para a vida inteira, uma tragédia para os professores que lá se encontravam. Para muitos professores, a vida acabou naquele dia, mesmo eles não tendo sido as vítimas fatais. São lembranças terríveis, inimagináveis, que ficarão guardadas em suas mentes para o resto de seus dias. O stress, o medo, a insegurança, já começam a tomar proporções gigantescas. Alguns pais, alunos e professores começam a se perguntar se a escola é realmente um ambiente seguro. Felizmente não é todos os dias que vemos pessoas descontroladas a ponto de descarregar suas armas de fogo em alunos e professores. Mas será somente a presença de um atirador desequilibrado quem de fato mede se a escola é segura ou não para nossos filhos? O que mais a escola pode estar fazendo, de bem e de mal, para professores e alunos? Será que o ambiente da escola é, de fato, seguro para o bem-estar físico, mental e espiritual de nossas crianças? A questão é muito mais profunda e a resposta precisa vir de dentro de cada um. Este artigo apresenta apenas os meus argumentos, a minha opinião a partir do que vejo e ouço. E você? o que vê, ouve e conclui a esse respeito?
Há casos em que a família do aluno com laudo não aceita devidamente a situação. Um bom exemplo disso está entre as alunas com anorexia e bulimia. Que aliás, são surpreendentemente muitas, de acordo com professores com quem falei.

Sinal de Russel para bulimia

Professores contam que várias chegam a fazer feridas nas mãos, devido ao contato diário dos dedos com o “fundo” da boca/começo da garganta para provocar o vômito, e assim arranhando o dorso da mão nos dentes superiores. Isso é um dos sinais de bulimia (não dá o diagnóstico definitivo, mas é um dos sinais), conhecido como Sinal de Russel. É um fenômeno bastante frequente em escolas particulares: alunas adolescentes saindo de aula para ir ao banheiro provocar o vômito. Se um professor alertar os pais para o problema, pode ocorrer de alguns desses pais simplesmente negarem e acreditarem que tudo isso não passa de invenção por parte do professor ou da escola. “– Mas ela está tão feliz! Nós acabamos de voltar da Disney, ela comprou tantas roupas novas em Miami! Não pode ser.”  O professor, portanto, lida com adolescentes que, de tanto vomitar e não comer, desmaiam no meio da aula. E quando desmaiam… bem, acabou a aula para todos! Os demais alunos não vão parar de falar nisso. Quem poderá voltar a prestar atenção na aula? A aula acabou. Uma aula que foi cuidadosamente programada pelo professor, mas que não foi dada. A coordenação pedagógica – adivinhe – vai “cair matando” em cima – mais uma vez – do professor.
Outra questão são indivíduos que não conseguem acompanhar o padrão normal de aula com livros e material didático usuais nas escolas, mas que são inseridos na sala de aula, de acordo com a idade, por obrigação legal federal brasileira. Por exemplo, portadores de síndrome de Down, paralisia cerebral, deficientes auditivos, visuais etc. É claro que indivíduos portadores de necessidades especiais precisam de cuidados especiais. Mas são inseridos nas escolas comuns, onde os professores não possuem treinamento profissional adequado para trabalhar com esses alunos. Imagine só: o Ministério de Educação e Cultura (MEC) (odeio siglas!!) não obriga, até hoje, nenhuma universidade a oferecer algum curso, ou conhecimento básico que seja, para a formação de professores que irão trabalhar com a inclusão. A situação, que era para ser de harmonia, pode se tornar traumática para o professor que não possui essa capacitação. Sofrem os professores, que se frustram por não saber lidar adequadamente com esses alunos; sofrem os alunos incluídos e, é claro, podem sofrer os demais alunos. As consequências negativas se estendem a todos.
Escolas particulares são ambiente muito competitivo para os professores. As escolas particulares podem pagar bem mais que a rede publica, e por isso nenhum professor da rede particular quer perder seu posto ou emprego. Pelo contrário, é comum ocorrer de um professor almejar o cargo do outro, na mesma escola. Por exemplo, um determinado professor pode querer dar aulas para o ensino médio. Como é a direção da escola quem delimita as séries que o professor irá trabalhar, ela pode designar esse professor ao ensino fundamental. A partir daí, esse professor vê como sua única chance de trabalhar no ensino médio a saída do professor atual por algum motivo qualquer. Nesse ponto podem entrar em cena uma série de intrigas baseadas em burocracia. Um professor que foi maravilhoso, fantástico por muitos anos, mas que em um único ano pegou uma turma indisciplinada (perante a indisciplina o rendimento – lembra do gráfico do Excel? – tende a cair), esse professor leva a culpa pela queda de rendimento e, num passe de mágica, a carga horária para esse professor tenderá a diminuir para o próximo ano. Portanto novos horários se tornarão disponíveis para o professor que estava aguardando. Existem mil maneiras de se criar intrigas, e todas elas são facilitadas pelo fato de ser divulgado, costumeiramente, a todos os professores o rendimento individual de cada um, em reuniões coletivas (como as de enriquecimento curricular, que ocorrem antes do início de cada ano letivo). Em escolas particulares é comum todos os professores saberem quantos dias os outros faltaram e quantos alunos eles tiveram de recuperação. Essa situação é claramente constrangedora e nem sempre reflete a real competência de um bom professor. O mundo das escolas particulares é muito fechado: uma escola conversa com a outra. Os diretores e coordenadores se conhecem, se encontram, trocam informações. Se um certo professor “causou problema”, segundo a visão de uma grande escola, esse professor dificilmente conseguirá trabalho em outra.
A indisciplina dos alunos de hoje é vista como um problema do professor. Mas a maioria dos professores com quem conversei afirma que hoje em dia as crianças vêm mais petulantes de casa que antigamente. Tudo que uma criança fala na escola, ela ouviu em casa. E assim essa criança indisciplinada e agressiva contamina as outras crianças. Qualquer pessoa, mais ainda se for criança, tem um limite. Um limite de saturação para tantos xingamentos, chutes, e gêneros de agressões físicas, verbais e morais. O que acontece? Essa criança aprende a atacar para se defender. A civilidade aprendida por ela, com a família, até então, passa a se revelar um instrumento inútil naquele meio – naquele meio em que ela passa tantas horas de seu dia. Essa criança, a fim de se “adaptar” precisa reinventar-se para pior. E por “adaptar”, entenda-se seguir o colega dominante do grupo. Isso está acontecendo nesse exato momento nas escolas, com nossas crianças. A escola particular joga com o mercado. A meta da direção da escola é clara: não se pode perder aluno. É muito cômodo a direção jogar a culpa – mais uma vez – no professor, que admitir, por exemplo, que a sala é quem tem problema e assim convocar uma reunião com os pais envolvidos. Imagine! Se 5 pais saírem dessa reunião insatisfeitos e com raiva, a escola perderá 5 alunos!! É melhor, portanto, perder 1 professor que 5 alunos. 5 alunos pagam o salário de 1 professor – é matemática pura: 5>1.
Vários professores de escola pública consideram insana sua carga horária. Já os de escola particular têm a falsa ilusão de carga horária baixa, quando na verdade o trabalho de casa é imenso: uma pilha enorme de provas para corrigir, vários relatórios de psicólogos de alunos para responder, conteúdo para o site da escola para elaborar, aulas para planejar, provas para elaborar (o que demanda muito tempo), roteiro de estudo para elaborar – e tudo isso além de se manter bem informado, continuar estudando! Uma fonte com quem conversei relatou que bateu o carão de saída às 12:30h mas parou de trabalhar às 00:30h. Eram 350 provas para corrigir, de várias turmas – e é preciso corrigir conteúdo, erros de português, pontuação. Terminada a correção, passou outras tantas horas preparando relatórios para psicólogos de alunos portadores das mais diversas doenças e, é claro, se não elaborasse esses relatórios “bem direitinho” iria causar a falsa impressão que não conhece o aluno e portanto não tinha o que falar. Quanto stress!
Essa mesma fonte, uma professora, me contou ser muito alta a incidência de divórcios entre os professores: “– Pense só”, disse ela, “você tem uma mulher que tem 300 provas para corrigir, ainda tem provas para preparar e, no final de tudo isso, está cansada, física e mentalmente.”  E continuou com um sorriso triste: “–O professor leva a escola para dentro de casa.”
Depressão, pânico e hipertensão são males comuns entre professores. Isso é de se esperar.
Minha conclusão pessoal: a escola pode oferecer um ambiente seriamente insalubre, para professores e alunos. Estará ela refletindo apenas a situação doentia pelo qual passa nossa sociedade como um todo? É certo que todos, pais e professores, queremos passar aos nossos filhos e alunos os melhores valores éticos, morais, culturais, espirituais, de convívio pacífico em sociedade, alimentação saudável. Mas existem fatores em jogo, no próprio sistema, que podem interferir seriamente com esses objetivos. Ainda que o sistema seja representado por aquela escola particular tão cara e tão “bem frequentada”.
Precisamos dar às nossas crianças, pais e professores a chance de construírem um mundo cada vez melhor. E para que isso possa um dia acontecer, é preciso existir o ambiente mais propício e saudável possível. Aos amigos pais, sugiro que fiquem sempre alertas, conversem e conheçam os pais dos demais colegas de seus filhos, conheçam melhor os colegas de seus filhos, criem uma forte rede de relacionamentos entre pais que tenham valores em comum. Criem laços de amizade com os professores de seus filhos, compreendam melhor o sistema, trabalhem juntos. Lembrem-se que a saúde, tanto física quanto mental, tanto individual quanto da sociedade como um todo, começa em casa, no seio da família. É preciso que venha de nós o exemplo da civilidade, cordialidade, amor ao próximo, senso de comunidade e, como eu sempre digo, um estilo de vida saudável.
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Lena Rodriguez


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