terça-feira, 8 de janeiro de 2013

O REVERSO DA MÍDIA. OU A ERA DA INSENSATEZ




Desconhecemos a autoria. Mas trata-se de um texto suprido de muito realismo e que toca a cada um de nós. Longo, porém, lúcido e desprovido de qualquer falsidade. Remete-nos a uma leitura, se não fascinante, pelo menos muito meditativa. O ser, pelo ter, de nossa era, é realmente preocupante. 

“Troque de carro; troque de televisor; troque de celular; mude para nossa operadora, pois temos os melhores planos; beba mais cerveja; etc.etc.etc. Assim está sendo 24 horas por dia, por sete dias da semana. Não estranhem se amanhã, na abertura do telejornal, anunciarem o velório da coerência, pois vivemos a Era da Insensatez. Consumo, logo existo. Na sociedade consumista, quem não consome não existe.
William Bonner equiparou o telespectador nacional a Homer Simpson, um sujeito preguiçoso, burro, que adora ficar no sofá, assistindo TV, comendo rosquinhas e bebendo cerveja, e que só dá mancadas na vida.
O mais preocupante, porém, não é o fato de termos como editor chefe e apresentador do maior jornal televisivo do país alguém que nivela milhões de telespectadores com Homer Simpson. Devemos perguntar: “e se Bonner tiver razão”? Como foi que conseguimos alcançar tal condição? A quem interessa que continuemos assim? A televisão amolece o corpo e o espírito.
No Brasil, segundo o IBOPE, as pessoas vêem, em média, cinco horas de TV por dia. O sonho dos diretores televisivos é ter como audiência uma imensa massa crítica sem uma real capacidade de análise. Um público que não pensa, não questiona, facilmente manipulado, que compra tudo o que lhe mandam comprar. Consuma. Beba. Exista. Saia da rotina do dia-a-dia.
E o que dizer do “dumingão” do Faustão. Das vídeo-cassetadas para disfarçar? Segundo Millor Fernandes, uma série de estudos demonstrou que, no Brasil, os jovens bebem cada vez mais e cada vez mais cedo. É simplesmente rizível imaginar que eles teriam mais cautelas apenas ouvindo aquela rápida frase que alerta (beba com moderação) depois do sensualissimo anúncio com mulheres estupendas.
Embriague-se com moderação.
E o que dizer do Pedro Bial, quando se dirige aos participantes do BBB, chamando-os de  “nossos heróis” e “nossos mártires”. (Ele não sabe nem o que é ser herói, muito menos o que é ser mártir). Quão deturpados estão os conceitos de heroísmo e martírio. A que ponto chegamos. Vejamos, porém.
Escola Pública no sertão pernambucano. Sem acabamento nas paredes. Há um ano sem merenda escolar. Banheiros interditados. Não seria mais sensato qualificar de heróis e mártires nossos professores. Eles que quase sem nenhum reconhecimento e em condições tão adversas, tentam manter acesa a chama do saber e do conhecimento. Heróis e heroínas são, também, os pequeninos alunos e alunas com seus chinelos gastos, muitas vezes, obrigados a percorrer longas distâncias a pé para chegar à sala de aula.
Bial e toda a produção do BBB deveriam assistir ao documentário “Pro Dia Nascer Feliz”, do diretor João Jardim, que aborda a situação da  (vergonhosa) educação no Brasil. Quem sabe, o próximo “reality show” possa mostrar a dura realidade da grande maioria dos professores e alunos da rede pública, seja no sertão nordestino, seja nas periferias de qualquer capital.
E o que dizer das festas promovidas pela produção do Big Brother Brasil? Que belo exemplo para nossos jovens. Enquanto professores e escolas se esforçam para formar cidadãos, a televisão fabrica consumidores.
Outubro é o mês das crianças. O valor gasto no Brasil em publicidade dirigida ao público infantil chega a aproximadamente 200 milhões de reais.. No mesmo período o programa federal de desenvolvimento da educação (FNDE) não chega a 30 milhões de reais.
A televisão transforma crianças de tenra idade em consumidores e, por isso mesmo,  segundo especialistas em comportamento infantil, têm constatado mudanças significativas provocadas pela exposição massiva e precoce à publicidade. Diante da TV o telespectador está fisicamente inativo. Dos seus sentidos, trabalham apenas a visão e a audição.  Mas de maneira parcial. Os olhos praticamente não se mexem. Os pensamentos estão inativos. Não há tempo para o raciocínio consciente e para fazer associações mentais, já que a atividade cognitiva está muito lenta. Enfim, o cenário é semelhante a uma sessão de hipnose.
Na leitura é preciso produzir uma intensa atividade interior. Num romance é preciso imaginar o ambiente e os personagens. Num texto filosófico, ou científico, é preciso associar constantemente os conceitos descritos. Na TV, pelo contrário, não se exige qualquer atividade mental. A idéia chega pronta, acabada. Não há nada para associar.
Infelizmente, a televisão vem ocupando um crescente papel na transmissão dos caminhos da infância. As emissoras e os anunciantes assumiram tal incumbência pensando no lucro imediato e não nas crianças ou no futuro da nação”.
Compre. Beba. Consuma. Anúncios, anúncios e mais anúncios. Possua. Consuma. Troque. Compre.  Será que estamos mesmo no caminho de nos tornarmos órfãos do conhecimento? Da sabedoria? Estamos trocando, mesmo, o ser pelo ter? A lógica de Descartes nos diz  “penso, logo existo”. A lógica  do consumismo é: “consumo, logo existo”. Enfim, a televisão manipula, mesmo, o telespectador a seu bel prazer?
Cuide bem de você... www.cuidebemdevoce.com

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