Corrupção difundida
Um levantamento feito pelo Institute of
Professionales, Managers and Specialists (Instituto de Profissionais,
Administradores e Especialistas) revelou que a corrupção da ciência pelos
interesses comerciais está amplamente difundida. Um terço dos cientistas que
trabalham para laboratórios recentemente privatizados admitem que lhes pediram
que ajustassem as conclusões de suas pesquisas para satisfazer os
patrocinadores. 17% deles disseram que o ajuste havia sido solicitado para se
adequar ao resultado desejado pelo patrocinador, 10% para obter novos contratos
e 3%, para encorajar a publicação dos resultados. O editor do British Medical
Journal, Richard Smith, oferece dois exemplos de pesquisas duvidosas.
A pesquisa da suposta coagulação do sangue pela
terceira geração de anticoncepcionais orais não mostrou nenhum risco quando
financiada pela indústria farmacêutica, mas um risco evidente quando paga por
outras fontes.
A pesquisa não mostra nenhum risco para o fumante
passivo quando é financiada pela indústria do tabaco.
O British Medical Journal atualmente insiste que os
autores dos artigos relacionados a pesquisas declarem a fonte de financiamento
e a existência eventual de interesses concorrentes.
Fonte: Liz Lightfoort. Daily Telegraph, 14 de
fevereiro de 2000
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A influência da indústria sobre a ciência
A influência que a indústria exerce sobre a ciência
aparece nitidamente neste exemplo: um importante laboratório norte-americano
contratou autores fantasmas para escreverem dez artigos elogiando o seu produto
para emagrecimento. Esses artigos, que ocultavam riscos importantes, deveriam
ser publicados e assinados por médicos conhecidos. Dois dos artigos realmente
apareceram em revistas de medicina, os oito restantes não foram mais publicados
porque o laboratório teve que retirar o medicamento devido a diversos casos de
óbitos. Um representante do laboratório defendeu o procedimento: "Isso é
de praxe na indústria, não somos diferentes."
Fonte: Associeted Press, 25 de maio de 1999
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Operadoras de telefonia celular influenciam resultado de estudo
Um estudo realizado durante dois anos, sobre a
relação entre telefonia celular e algumas doenças do gado em propriedades nos
Estados da Bavária e Hessen (Alemanha), apresentou um resultado assustador. Nas
propriedades onde havia interferência da telefonia celular, era maior a
quantidade de deformações e os animais apresentavam distúrbios em seu
comportamento no pasto, ao alimentar-se e ao deitar. Os resultados do estudo
indicaram uma "relação entre a exposição a ondas eletromagnéticas e o
comportamento dos animais".
Tão logo os resultados preocupantes deste estudo
foram divulgados, houve um grito por parte do Ministério do Meio Ambiente do
Estado da Bavária — o estudo ainda não estava definitivamente concluído e,
portanto, não havia sido liberado para divulgação. Mais tarde, a versão oficial
e definitiva não apresentou qualquer alerta. Possíveis relações foram
minimizadas.
Agora também se sabe o motivo: as operadoras das
redes de telefonia celular arcaram com 50% dos custos do estudo. Em
contrapartida, podiam influenciar na escolha das propriedades e estar presentes
durante a elaboração do laudo final. As propriedades deveriam ser escolhidas em
proporção igual pelas operadoras, pelo Ministério do Meio Ambiente da Bavária e
pelos veterinários. No entanto, sabe-se que aproximadamente 2/3 das
propriedades foram escolhidos pelas operadoras e apenas 1/3 foi escolhido pelos
veterinários. A influência nos resultados é evidente: as operadoras podem ter
escolhido propriedades onde as torres de transmissão próximas foram instaladas
há pouco tempo. Os seus efeitos portanto ainda não seriam perceptíveis.
Além disso, a classificação das propriedades quanto
à carga eletromagnética recebida não foi feita da maneira apropriada, o que
afeta os resultados. No laudo final até consta que as propriedades
"certamente poderiam ter sido selecionadas com mais critério".
Na avaliação final, a representação dos resultados
foi influenciada. Fotos de deformações e anomalias foram rejeitadas com o
argumento de que não se desejava realizar um show de horror. A conclusão mais
importante dos cientistas — "Estes resultados mostram que não há motivo
para cessar o alerta em relação à interferência de campos
eletromagnéticos." — foi simplesmente excluída na versão oficial.
Temos aqui, portanto, um estudo — que custou 800
mil marcos alemães — que, em primeiro lugar, foi malfeito; em segundo lugar,
foi influenciado pelas operadoras; em terceiro lugar, exige novas pesquisas e,
por fim, inocenta e adultera a gravidade dos riscos. Tão logo algum interesse
econômico prevaleça, a defesa do consumidor será posta de lado.
Fonte: Programa Report Mainz,21 de agosto de 2000
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A indústria censura resultados indesejados
Tudo poderia ter sido tão simples: um novo
medicamento contra a AIDS, pesquisas que comprovam o seu efeito e um
mega-sucesso de vendas. Infelizmente, os pesquisadores atrapalharam este sonho.
A pesquisa com o medicamento Remune, da empresa norte-americana Immune Response
Corporation, não apresentou os resultados desejados. Isto era indiferente para
a indústria farmacêutica, mas não para os pesquisadores.
Contra a vontade da empresa, os pesquisadores
publicaram os resultados da pesquisa no Journal of the American Medical
Association (nº. 2193/2000). Eles se sentiram moralmente obrigados a ignorar as
proibições da empresa norte-americana. "A empresa deu mais importância ao
produto do que ao paciente", explica James Kahn, da Universidade da
Califórnia em San Francisco. Entretanto, ao invés de se envergonhar de suas
tentativas de manipulação, a empresa entrou na justiça e exige dos cientistas
reembolso por prejuízos da ordem de 7 a 10 milhões de dólares, como informa a
revista Lancet (nº. 356/2000).
Quem acredita que este episódio retrata um caso
isolado, engana-se. Há tempos os pesquisadores reclamam da pressão das empresas
para que sejam publicados apenas resultados positivos e que experiências
fracassadas não cheguem ao conhecimento do público.
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Fonte: Süddeutsche Zeitung, 21 de novembro de 2000